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“Ler é uma atividade que se adquire com o tempo. Você lê diversas histórias para desenvolver diferentes preferências. É preciso deixar de ler somente para a escola, que possui um tom de tarefa, quando isso deveria ser um gesto de brincadeira”, defende Christine Fontelles, diretora de educação e cultura do
Instituto Ecofuturo. Ela explica a importância do movimento Eu quero minha biblioteca, que defende a efetividade da lei 12.244/10, que prevê que todas as instituições de ensino públicas e privadas do País deverão possuir biblioteca até 2020.
Instituto Ecofuturo. Ela explica a importância do movimento Eu quero minha biblioteca, que defende a efetividade da lei 12.244/10, que prevê que todas as instituições de ensino públicas e privadas do País deverão possuir biblioteca até 2020.
A causa do movimento é um direito de toda a sociedade. Lançado no ano passado, Eu quero minha biblioteca pretende aumentar cada vez o número de entidades parceiras para divulgar ainda mais a meta estipulada pela lei. “A partir deste ano, começa o plano de biblioteca a vários pontos para serem cadastradas, melhorar a comunicação sobre as leis e os recursos públicos. Buscar ainda regularizar as leis, as referências, aumentando a coalizão. É muito importante ter a mídia ao nosso lado, a favor da valorização da importância da leitura”, pontua Cristiane.
Há recursos públicos para a educação que pode ser utilizado na criação e manutenção de bibliotecas nas escolas. Outro objetivo desse movimento é fornecer informações claras para um planejamento na efetivação dessa lei. Para isso, participam uma coalizão de organização, que já atuam nas áreas de educação, leitura e biblioteca: Academia Brasileira de Letras, Conselho Federal de Biblioteconomia, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação, Movimento por um Brasil Literário, Instituto Ayrton Senna, Instituto C&A, Rede Marista de Solidariedade e Todos pela Educação. A ideia também é levar essas informações a gestores públicos, candidatos às eleições municipais, em especial a dirigentes de ensino, a professores, à sociedade civil e aos cidadãos.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em março do ano passado, realizada pelo Instituto Pró-Livrocom apoio da ABRELIVROS, Câmara Brasileira do Livro o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, revela que crianças e adolescentes estão lendo menos livros em 2012, comparando com a pesquisa anterior, feita em 2007, entre os cinco e 17 anos de idade; as bibliotecas escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro (64%).
Em sua terceira edição, o estudo traz o comportamento do leitor brasileiro e o acesso à biblioteca no País. No item de Motivações para ler um livro, o segundo item mais respondido foi prazer, gosto, ou necessidade espontânea com 49%. Em primeiro lugar, ficou a atualização cultural/conhecimentos gerais, com 55%. E em terceiro, exigência escolar, ou acadêmica, com 36%. Essa pesquisa é destinada a dirigentes de ministérios e órgãos estaduais e municipais de Educação e Cultura; gestores e técnicos de órgãos públicos e não governamentais responsáveis por programas e projetos de leitura; dirigentes e técnicos da cadeia produtiva do livro e suas entidades; pesquisadores, educadores, bibliotecários, voluntários e agentes culturais da cadeia mediadora da leitura e mídia especializada.
Na última quinta-feira (17/01/2013), foi lançada Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), feito pela Rede Nossa São Paulo, um conjunto de indicadores para que a própria sociedade civil, governos, empresas e instituições conheçam as condições e os modos de vida dos cidadãos, com a finalidade de que as ações públicas e privadas tenham como foco principal o bem-estar das pessoas. Dessa forma, de 2009 até 2012, no mês de dezembro, o Ibope Inteligência levantou com os indivíduos o nível de satisfação da população com os temas e os aspectos relacionados com a qualidade de vida.
No item Acesso a serviços essenciais, a biblioteca pública próximo da residência dos entrevistados aumentou nos últimos anos: 32%, em 2008; 55% em 2009; 49% em 2010; 52% para 2011 e no ano passado caiu um ponto para 51%. Já sobre Satisfação geral com áreas relacionadas à qualidade de vida em São Paulo, no segmento de cultura, a proximidade de bibliotecas públicas teve uma queda de -0,4, nos últimos quatro anos. É importante ressaltar que um dos itens com maior piora do nível de satisfação entre 2011 e 2012 foi a frequência com que lê jornais, livros e revistas, com -0,6, em quinto lugar.
A coordenadora do Instituto Ecofuturo fala ainda sobre a necessidade dos profissionais da educação em ajudar a tornar a leitura a crianças e jovens como uma atividade prazerosa. “A criança aprende que cada virar de página vê cada parte da história, da fantasia. Importante educar dentro dessa perspectiva. Aí, essa criança chega na escola e possui intimidade com os livros. A biblioteca te assegura os direitos para desenvolver habilidades, a compreensão... a literatura traz tudo a tona, um relato e um contato com o comportamento humano”.
Por outro lado, a cientista social ainda indica a importância do educador em ajudar na construção do acervo desses espaços. “Não adianta ter uma biblioteca na escola sem diálogo com o educador”, diz. Para ela, o professor é um dos profissionais mais adequados para definir o acervo, identificar o gosto desses alunos, que tipo de histórias e quem irá contá-las. “O bom educador deve indicar a leitura. Ele tem que melhorar a habilidade leitora. Dessa forma, nós nos comunicamos melhor”, acredita.
Responsável pelo Programa Ler é Preciso, que realiza projetos integrados com foco na promoção das competências de leitura e escrita, que engloba os projetos Biblioteca Comunitária Ler é Preciso, Prêmio Ecofuturo de Sustentabilidade, Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso, Dia Nacional da Leitura e Campanha “Eu Quero Minha Biblioteca”, Cristiane reforça a necessidade de um bom acervo, biblioteca com infraestrutura, profissionais para incentivar a prática da leitura, entre outros pontos importantes. “Dentro do Ministério da Educação, há o Plano de Ações Articuladas que possui uma linguagem difícil. Eles oferecem um edital, que é difícil de entender como participar e os documentos necessários. Há diferentes formas de obter recursos para bibliotecas. O Brasil não tem cultura de leitura, nem de biblioteca. Isso parece óbvio, mas não é. Como não tem prática cotidiana em sala de aula, não há rotina. Para melhorar os indicadores de letramento, precisa melhorar a habilidade de leitura, educar para ler”, indica a especialista.
Baixa participação
Andréa Bergamaschi, gerente de Projetos Estratégicos do Todos Pela Educação, já defende a questão da biblioteca como fundamental para o desenvolvimento da leitura entre crianças, jovens e adultos. “Aqui, trabalhamos com as cinco metas. A meta da qualidade está diretamente relacionada com a questão da leitura”, diz. Dessa forma, a lei 12.244 é bem positiva em sua avaliação. “Quem lê mais escreve melhor, tem gramática melhor. O ensino nos primeiros anos ajuda a consolidar o aprendizado ao longo da vida escolar. Essa ação é fundamental. É divulgar e trabalhar sobre a importância da efetividade dessa lei, a consolidação da leitura e interpretação de textos”, pontua.
Ela indica a baixa participação do cidadão de defender políticas públicas, em especial em centros urbanos, devido à concentração de escolas privadas. “Há uma sensação de que o problema está melhorando por ter mais escolas privadas. Isso é uma ilusão, porque nem toda escola pública é ruim e nem toda privada é boa. 75% dos estudantes brasileiros hoje, com idade escolar, estão na rede de ensino público. O fato de eu encaminhar meu filho na escola privada não significa que é problema meu. A escola pública de baixa qualidade - 85% das pessoas estudam nessas escolas – é continuar gerando um Brasil com desigualdade muito grande”. E a ainda complementa: “Educação é um direito humano e está na Constituição, todo brasileiro tem direito a isso. É que a gente já vê essa situação de desigualdade educacional no Brasil na vala comum. É comum a pessoa de família rica estudar em universidade pública. Isso não é comum. O certo e o comum é todo mundo ter acesso à escola pública de qualidade e poder optar o que fazer”.
Para ela, a escola reproduz a desigualdade que há na família, na sociedade em geral. “Na escola, que não há condições de ter um livro em casa, vai pegar na biblioteca e levar em casa para ler na praça, onde a pessoa tiver um cantinho de leitura”, pontua. Andréa ressalta que a biblioteca tanto na escola, quanto nas comunidades, têm esse papel fundamental compensatório, de repor aquilo que a criança não consegue em casa.
O Instituto C&A também é uma das organizações da coalizão em prol da lei 12.240. Volnei Canônica, coordenador do programa Prazer em Ler do Instituto C&A, conta que divulga o movimento a dirigentes de escolas e aos parceiros dos programas da entidade para a própria sociedade fazer o controle social dessa legislação.
“As crianças não aprendem que a biblioteca deve ter e que ela vai ser uma extensão da escola”. O especialista ainda pontua que existe um gap entre a escola e a biblioteca. Em alguns casos, não há biblioteca pública na cidade. Outra questão apontada foi que as pessoas buscam mais por informação do que por literatura nesses locais. “Mas acho que tem uma coisa de pertencimento. Entender que quando saio da escola posso ir à biblioteca, por isso, é importante que toda escola tenha esse espaço. A gente sabe que essa leitura é importante no sentido de tornar um cidadão mais crítico, mais participativo”.
Movimento Eu quero minha biblioteca: www.euquerominhabiblioteca.org.br
Instituto Ecofuturo: www.ecofuturo.org.br
Lei 12.244/10: http://bit.ly/149iO0L
Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município: http://bit.ly/10Jtuo5
Plano de Ações Articuladas, do Ministério da Educação: http://bit.ly/10wyG9Z
Fonte: http://www.setor3.com.br
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